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S.A. FRIGORIFICO ANGLO - 50 ANOS DE BRASIL

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Origem

A instalação da Sociedade Anônima Frigorífico Anglo no Brasil foi resultado de uma série de fatos sucedidos ao longo dos 14 anos que a antecederam. Tais fatos tiveram lugar em lugares separados entre si por milhares de quilômetros e, à primeira vista parecem não se relacionar uns com os outros.

Em 1909 os trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro atingiam a cidade de Barretos, na época o maior entreposto do mercado de bovinos do Brasil Central. Ficava, portanto, Barretos ligada diretamente a Santos, nosso maior porto na época, como ainda hoje.

Aproveitando-se dessa circunstância, houve por bem o conselheiro Antônio Prado, então presidente da Cia. Paulista, instalar um matadouro-frigorífico na região de Barretos. Assim é que, constituída a Cia. Frigorífica e Pastoril para essa finalidade, jã em 1909 iniciavam-se as obras de construção do frigorífico em terrenos situados à cerca de 4 quilômetros de Barretos e às margens do córrego Pitangueiras e dos trilhos da Cia. Paulista. O frigorífico foi inaugurado em maio de 1913, já aparecendo os primeiros dados estatísticos, com um total de 28.251 bovinos e 1.834 suínos abatidos.

Família Vestey: O alicerce da grande obra

Enquanto isto sucedia na tropical Barretos, na nevoenta Londres, ou mais precisamente, no tradicional centro mundial do mercado de carnes de West Smithfield, pelo menos um membro da família Vestey, já então firmemente estabelecida no comércio de carnes, se preocupa em aumentar e garantir as fontes de abastecimento de seu comércio, mormente em vista dos sinais de aproximação da guerra que de fato eclodiria em 1914. Já em 1915 tem-se noticias seguras da presença de emissários da família Vestey em terras brasileiras, mas não é de duvidar que outros os houvessem antecedido. Finalmente em 1917 foi adquirida pelos Vestey uma antiga cervejaria situada na cidade de Mendes, no Estado do Rio de Janeiro, que prontamente foi adaptada para funcionar como matadouro-frigorifico, constituindo-se a Brazilian Meat Company, com sede no Rio de Janeiro, para operá-lo, conforme autorização do Decreto 12.609 de 22 de agosto de 1917.

Barretos: Centro de influência para o estado de São Paulo

Ao tempo em que isso ocorria, em Barretos a Cia. Frigorífica e Pastoril, por motivos que não vem ao caso, se desinteressava pela operação do frigorífico que havia construído, arrendando-o por algum tempo, para, finalmente pô-lo à venda em 1923. Tendo a Brazilian Meat Company se interessado pelo negócio, este de fato se concretizou em 7 de dezembro de 1923. Com esta aquisição, previu a diretoria da Brazilian Meat Company não só um aumento considerável de seus negócios no Brasil, como também o deslocamento de seu centro de influência para o estado de São Paulo. Para se adaptar a estas novas circunstâncias, a Assembléia Geral Extraordinária dos acionistas da Brazilian Meat Company, reunida em 23 de janeiro de 1924, especialmente convocada que fora para esse fim, tomou, por unanimidade de votos, duas decisões fundamentais para a existência desta Companhia tal qual existe hoje:
1.° - Aprovando a mudança da sede social para a cidade de São Paulo,-
2.° - Aprovando a mudança da denominação da companhia para Sociedade Anônima Frigorífico Anglo.

Verifica-se portanto, neste ano em que comemoramos o seu cinquentenário, que a criação da S. A. Frigorífico Anglo se identifica com sua instalação em Barretos, embora a presença de seus precursores possa ser assinalada no Brasil com alguns anos de antecedência.

Evolução

A Brazilian Meat Company, ao instalar seu matadouro-frigorífico em Mendes, tinha como principal finalidade a preparação de carnes frígorificadas para a exportação, embora como atividades secundárias já houvesse a produção de charque e o abastecimento de carne verde à cidade de Rio de Janeiro. Com a aquisição do estabelecimento industrial de Barretos e a mudança da razão social para S. A. Frigorífico Anglo, além da ampliação destas atividades, abriam-se perspectivas para novos empreendimentos, que não tardaram a surgir.

Assim é que, em etapas sucessivas, que se seguiram a correspondentes ampliações da área construída, foi primeiramente ampliada a área refrigerada, ao que se seguiu a instalação das seções de enlatados, salsicharia, ampliação da seção de charque, até a construção e instalação da fábrica de sabão por volta de 1938, já então no limiar da 2º Guerra Mundial, em razão da qual e ainda mesmo durante alguns anos após ao seu término, todos os projetos de ampliação ou atualização viriam a ser temporariamente abandonados.

Contribuição à 2ª grande guerra

Durante os anos da guerra é que se verifica a maior atividade nos estabelecimentos da S. A. Frigorífico Anglo em termos de produção, conforme demonstram os dados estatísticos. De fato, grande foi a contribuição da S. A. Frigorífico Anglo para o esforço de guerra aliado, através do abastecimento quer das tropas em operações, quer das populações civis vitimas da conflagração, não tendo sido descurado, no entanto, o abastecimento interno do pais, como aliás tem sido a política da Anglo em todas as fases criticas de abastecimento que temos atravessado até o presente.

Pelotas:Matadouro-frigorífico

Foi por esta mesma época que, seguindo o programa de ampliação de suas atividades, a S. A. Frigorífico Anglo construiu e inaugurou em 1942 um matadouro-frigorífico na cidade de Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul, já aparelhado para a industrialização completa de carnes, inclusive fabricação de enlatados e produtos de salsicharia.

Pelo que acima ficou dito pode-se avaliar o vulto dos investimentos industriais feitos pela Anglo a partir de sua fundação até os primeiros anos da década de 1940. Nos anos de após-guerra, como consequência da instabilidade política e econômica do próprio pais, desencorajadoras ambas de quaisquer planos para o futuro, não se verifica progresso sensível, cuidando-se apenas de se conseguir um certo equilíbrio financeiro que permitisse a manutenção das atividades industriais.

Exigências do progresso brasileiro

Nos últimos dez anos, entretanto, acompanhando o surto geral de progresso do pais, atira-se a Anglo a uma série de projetos necessários à sua atualização dentro da realidade mundial. Assim é que, atendendo às mais modernas exigências técnicas e higiênico-sanitárias, impostas náo somente pelas autoridades brasileiras e dos demais países consumidores, mas, principalmente, pelas mais recentes conquistas cientificas e tecnológicas, foram completamente remodelados e re-equipados os estabelecimentos de Pelotas e de Barretos, estando ainda em andamento as obras referentes ao segundo, embora em fase bastante adiantada, o que permite afirmar estarem ambos em condições de atender às exigências de praticamente quaisquer países importadores.

Não bastasse isto, e como decorrência do deslocamento para oeste do polo de atração das atividades pecuárias de corte, acha-se em adiantado estágio de construção um novo matadouro-frigorífico na cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás, e cuja Inauguração está prevista para o primeiro semestre de 1974.

Reinversão e inversão de capitais

Verifica-se assim que, atingida a estabilidade política e razoável estabilidade econômica no país, voltam os altos dirigentes da S. A. Frigorífico Anglo à sua antiga política, não só da reinversão de lucros, como também de inversão de novos capitais em território brasileiro, com os consequentes benefícios disso advindos para o país.

A par desta evolução econômica, tem-se verificado ainda nesta última década um crescente índice de nacionalização dos quadros do pessoal técnico e administrativo da Anglo, certamente fruto da fase de desenvolvimento acelerado que o país atravessa em praticamente todas as áreas de atividade.

Higiene e inspeção federal

Do momento de sua criação, tem de seus dirigentes, transmitida a seus dirigidos, o fato que qualquer produto comercializado sob a chancela da S. A. Frigorífico Anglo deverá satisfazer durante todas as fases de sua industrialização aos mais rígidos princípios de higiene e sanidade, de modo a estar â altura do lema da Anglo - "garantia de qualidade".

Bem demonstra esta preocupação o fato de, criado o Serviço de Inspeção Federal no Brasil, ter sido a S. A. Frigorífico Anglo uma das primeiras a requerer a Inspeção Permanente em seus estabelecimentos, como bem atestam os números S. I. F. 2, dado ao frigorífico de Barretos, e S. I. F. 3 ao de Mendes, recebendo o de Pelotas o número S. I. F. 30 em razão da data de sua construção.

A presença permanente dos veterinários e técnicos do Serviço de Inspeção Federal nos estabelecimentos industriais seriam por si só uma cabal garantia da qualidade dos produtos ali elaborados, sob qualquer aspecto. Entretanto, estabelecendo os seus padrões um pouco além do que a letra fria da lei exige, dotou a Anglo os seus estabelecimentos industriais de laboratórios químicos e bacteriológicos, onde cada partida produzida, quer seja de carnes frigorificadas quer seja de carnes enlatadas, ou ainda de sub-produtos tais como farinha de carne ou sebo, é cuidadosamente analisada sob todos os aspectos pertinentes antes de ser liberada para o consumo.

Controle de qualidade

Como se isto ainda não bastasse, criou-se um serviço de Controle de Qualidade, cujos inspetores têm a função de, como o próprio nome indica, verificar a qualidade de tudo o que se usa no estabelecimento em cada fase de elaboração de cada produto, a partir da matéria-prima até o produto final, passando por toda a gama de materiais acessórios, tais como a própria água usada ou os continentes metálicos nos quais são enlatados os mais variados produtos. Nesta tarefa os Inspetores de Qualidade são assessorados pelos Laboratórios sempre que necessário.

Cabe ainda aos laboratórios a tarefa de verificar, mediante provas adequadas, a eficiência da limpeza e desinfecção dos equipamentos em que são elaborados os vários produtos. Além disso, todos os operários são submetidos a rigoroso exame médico, inclusive radiografias dos pulmões, a intervalos periódicos.

Funções sociais

Embora ao ser constituída uma empresa industrial ou comercial não tenha qualquer finalidade social como sua principal razão de ser, nos estados não socialistas mais cedo ou mais tarde, em razão de suas próprias atividades, viria a assumir uma função social que, em alguns casos peculiares, poderia vir determinar a sobrevivência de toda uma coletividade. Tal foi o caso da S. A. Frigorífico Anglo em Barretos.

Enquanto Barretos foi o centro da pecuária de corte no Brasil Central e o matadouro-frigorífico da Anglo o seu único estabelecimento industrial, pode-se dizer que Barretos existiu economicamente em função da Anglo, não só pelos empregos que oferecia, como ainda pelo movimento econômico e financeiro que provocava na praça. Ainda hoje, embora já se sintam os efeitos de uma certa diversificação de atividades na região, direta ou indiretamente ainda é a Anglo a mola propulsora do município. Realmente, a par de cerca de 1.500 empregos que oferece, que sai á média de 3 dependentes por empregado significa a sobrevivência de aproximadamente 6.000 pessoas.

O maior contribuinte

É ainda, na região, a Anglo o maior contribuinte do imposto de renda, do imposto de circulação de mercadorias, do imposto sindical e do I.N.P.S., sendo, como é, o maior empregador da região. Esta é uma função social que a Anglo exerce indireta e compulsoriamente através dos benefícios advindos do recolhimento dos impostos e contribuições acima. Outras, entretanto, exerce voluntariamente. Assim é que um grande número de seus empregados reside com suas famílias em casas de propriedade da Anglo, mediante o pagamento de módica taxa mensal de conservação.

O conjunto destas casas forma o chamado bairro industrial do Frigorífico, e para atender à sua população acham-se instalados em próprios cedidos ou doados pela Anglo os seguintes serviços:
Um grupo escolar e um ginásio estadual; um posto de puericultura estadual; um parque infantil municipal; um posto odontológico mantido pelo SESI; uma igreja presbiteriana; em terreno cedido será erigida uma capela católica; um cinema; um clube social e recreativo com salão de festas e instalações para várias modalidades esportivas; dois campos de futebol; uma cooperativa de consumo; um posto de alfabetização de adultos do MOBRAL.

Todas estas instalações são servidas por rede de esgoto e água potável, esta fornecida do serviço de tratamento da própria Anglo, sendo ambas instaladas e mantidas também pela Anglo.

Produtos

Obviamente, o principal produto saído das fábricas da S. A. Frigorífico Anglo, seja para exportação, seja para venda no mercado interno, são as carnes bovinas frigorificadas, resfriadas ou congeladas. Paralelamente, visando um melhor aproveitamento econômico da matéria-prima ao seu dispor, parte da carne resultante das operações de abate e desossa é industrializada e comercializada sob a forma de enlatados dos mais variados tipos, encontrados no mercado interno sob as tradicionais marcas Anglo e Lagôa.

Ainda visando um total aproveitamento do equipamento disponível durante a entre-safra do boi, e a disponibilidade de matéria-prima acessível, a fábrica de Pelotas industrializa ainda frutas e legumes enlatados.

Como resultado de suas atividades principais, resulta uma extensa gama de sub-produtos, integralmente industrializados e comercializados. Obedecendo a um critério de classificação até certo ponto arbitrário, podemos arrolar os produtos e sub-produtos industrializados pela S. A. Frigorífico Anglo como se segue:

Produtos in natura

Carnes bovinas frigorificadas
Miúdos bovinos
Tripas bovinas salgadas

Produtos enlatados

Carne bovina em conserva (Corned Beef)
Língua bovina
Peito bovino
Salsichas tipo Viena (marca Anglo)
Salsichas tipo Frankfurt (marca Anglo)
Presto (marca Anglo)
Pasta de fígado (marca Lagôa)
Almôndegas em molho (marca Anglo)
Presuntada (marca Lagôa)
Feijoada (marca Lagôa)
Ervilhas (marca Lagôa)
Pêssegos em calda (marca Lagôa)
Aspargos (marca Lagôa)
Morangos em calda (marca Lagôa)
Extrato de carne
Mortadela enlatada (marca Anglo)

Sub-produtos:

Couros bovinos salgados
Sebo bovino
Oleo de mocotó
Farinha de carne e ossos (marca Avina)
Ossos industriais
Cascos bovinos
Chifres bovinos
Crina bovina
Farinha de sangue
Bile bovina concentrada
Cálculos biliares
Sabão comum (marca Eureka)
Sabão prensado (marca Anglo)
Sabão em pó (marca Eureka)
Sabonete (marca As Palmas)
Glicerina distilada
Velas (marca Eureka)

Grande parte destes produtos e sub-produtos é consumida no mercado interno, porém parte não menor é exportada, concorrendo deste modo a Anglo, de maneira bastante apreciável, não só para o abastecimento dos grandes centros consumidores do pais, como também para a captação de divisas, em geral em moedas fortes.

Outras atividades

A par de suas atividades industriais, dedica-se ainda a S. A. Frigorífico Anglo a atividades agrícolas em suas fazendas distribuidas pelo território nacional. Um exemplo típico de tais atividades é a produção de frutas citricas, laranjas principalmente, na fazenda situada no município de Pitangueiras, no estado de São Paulo. As frutas ali produzidas são destinadas principalmente á exportação, sendo para isso beneficiadas e embaladas na "packing-house", também de propriedade de Anglo, situada à margem dos trilhos de Fepasa ne estação de Pitangueiras. Outras áreas, em diferentes fazendas, são destinadas ao plantio do café ou ao cultivo de cereais e leguminosas. Como não podia deixar de ser, entretanto, grande parte das atividades agrícolas da S. A. Frigorífico Anglo dirigem-se à pecuária. Assim é que grande parte das fazendas está formada em pastagens de tipos diversos, resultantes de incessantes pesquisas constantemente atualizadas pelos técnicos especializados no assunto, visando sempre o máximo aproveitamento da área disponível, obedecendo-se sempre as mais modernas técnicas de conservação do solo.

Raça indiana: introdução no Brasil

A criação de bovinos e a obtenção de cruzas de rusticidade e precocidade ideais tem sido uma preocupação constante dos dirigentes da S. A. Frigorífico Anglo, conforme atesta o fato de, já nos primeiros anos após a introdução das raças indianas no Brasil, pagar a Anglo um prêmio de dois mil réis por cabeça de gado de origem zebuína oferecida para corte, incentivando desta forma a criação dos mestiços de raças indianas, comprovadas que foram sua rusticidade e sua precocidade quando comparadas às da raça caracu, então predominante na região.

Do acerto desta decisão não há o que discutir. Os resultados aí estão para provar. Não permaneceu estática, entretanto, a Anglo neste campo de atividade, e em suas fazendas de criação procura sempre aprimorar o rebanho através de pesquisas incessantes. Vale dizer que tais pesquisas não têm como finalidade a obtenção de lindos exemplares para serem exibidos em exposições, e sim o aprimoramento do rebanho nacional de corte afim de que, em conjunto com o desenvolvimento de técnicas mais eficientes de engorda, seja possível atingir um grau de desfrute desse mesmo rebanho que seja compatível com as metas de desenvolvimento a que se propuseram todos os brasileiro.

Alguns dados estatisticos

Durante os cinquenta anos de existência da S. A. Frigorífico Anglo, foram abatidos em seu estabelecimento de Barretos os seguintes totais de bovinos, tabulados por quinquênio.

1923 a 1927287.126
1928 a 1932657.831
1933 a 1937983.220
1938 a 1942      1.146.779
1943 a 1947636.576
1948 a 1952883.037
1953 a 1957903.844
1958 a 1962907.833
1963 a 1967534.609
1968 a 1972754.697

Recorde

O ano de 1941 marca o recorde de abates, com o total de 246.172 bovinos.
Além de bovinos, em diferentes épocas foram abatidos os seguintes totais de outros animais.

Atualmente as atividades de abate nos matadouros da Anglo restringem-se a bovinos, não havendo previsão a curto prazo para outras atividades.


Texto de um prospecto (de autoria desconhecida) distribuido em 1974 em comemoração as festividades em Barretos SP pelo cinquentenário da Anglo no Brasil. Digitalizado,adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.


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