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O PECADO

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Leopoldo Costa


Pecado (harmátema), na Grécia antiga, era o fracasso de uma pessoa em alcançar sua verdadeira auto-expressão e de preservar a sua relação com o restante do universo. Era atribuído principalmente à ignorância.

Desde os primórdios da civilização existe a ideia de pecado, tendo sua origem na abjeção extrema à violação de um tabu.

No Gnoticismo e Maniqueísmo o pecado era entendido como a manifestação da degradação humana, deixando o mundo dos deuses para uma prisão no mundo material.

No Judaísmo e Cristianísmo o pecado era a violação deliberada e proposital da vontade divina atribuída ao orgulho humano.
Para os antigos hebreus o pecado seria a transgressão voluntária (ou até involuntária) da ordem estabelecida pelos poderes sobrenaturais. Essa desobediência tornaria o indivíduo impuro, podendo acarretar castigos para ele e para a sua comunidade.

No Velho Testamento foi reformada essa doutrina e o pecado passou a ser o ato de recusa a Deus com a idolatria e a injustiça para com o próximo. Isaías aponta como decisiva a decisão do indivíduo para caracterizar a falta, enquanto Ezequiel acentua a responsabilidade individual, cujo exemplo seria a desobediência aos Dez Mandamentos.

No Antigo Testamento, o pecado está diretamente ligada às crenças monoteístas dos hebreus. Atos pecaminosos são vistos como um desafio aos mandamentos de Deus, e pecado em si é considerado como uma atitude de desafio ou ódio a Deus.

O Novo Testamento aceita o conceito judaico de pecado, mas considera o pecado individual e o pecado coletivo da humanidade. A redenção através de Cristo deu condições aos homens para vencer o pecado e, assim, tornar-se completo.

João e Paulo elaboraram detalhada definição de pecado. Paulo ensina que o pecado original é um estado que atinge toda a humanidade tendo origem no comportamento de Adão e Eva. Ainda segundo Paulo, o pecado original torna o ser humano incapaz de cumprir a lei revelada na Bíblia, a lei natural ditada pela consciência e que somente a graça de Cristo pode libertar os homens dessa situação, encaminhando-os para uma vida nova. Este tema foi tomado por Agostinho na sua polêmica com o Pelagianismo, que negava o pecado original. A doutrina oficial do Catolicismo firmada nos Concílios de Cartago (418) e Orange (529), colocou-se entre o otimismo de Pelágio e o pessimismo de Agostinho, definindo que o pecado original é verdadeiramente transmitido à toda a humanidade em consequência da perda dos atributos que o primeiro ser humano possuía. Sustentou  que ele acarretava para todos os homens a perda dos dons que gozava na origem,como a graça e os dons pré-naturais (domínio da razão sobre a sensibilidade, isenção da morte e do sofrimento).

Tanto o Cristianismo quanto o Judaísmo têm enfaticamente rejeitado a doutrina maniqueísta de que o mundo é inerentemente mau. O Cristianismo admite que o mal do mundo é consequência do uso indevido do livre arbítrio dado por Deus. O corpo, com suas paixões e impulsos, não deve ser ignorado e nem desprezado, mas sim santificado.

No século VI, Gregório Magno agrupou os chamados "pecados capitais" os sete vícios ou faltas graves que fazem parte da tradição cristã. São eles: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho e preguiça. Tomás de Aquino na Summa Theologica no século XIII discutiu este assunto,observando que estes pecados dão origem a outros, especialmente pela sua motivação.

Na Reforma Protestante, Martinho Lutero e João Calvino mantiveram a ótica de Agostinho sobre o pecado original e da graça de Deus como meio de redenção. Zwinglio considerava o pecado como uma doença hereditária e Friedrich Schleiermacher do século XIX argumentou que o pecado tem sua origem na incapacidade de distinção entre a absoluta dependência de Deus e a dependência ao mundo temporal. O Concílio de Trento (1545-1563)rejeitou as ideias dos Reformadores protestantes e corroborou as decisões dos Concílios de Cartago (418) e Orange (529).

Costuma-se classificar o pecado em "mortal" e "original". O pecado mortal é um  afastamento deliberado de Deus, pela desobediência grave cometida por quem está deliberado a isso com pleno conhecimento e consentimento da sua vontade.

O pecado mortal  pode ser também  distinguido como "formal" e "material". Pecado formal é um procedimento errado em si mesmo e conhecido pelo pecador  que, portanto envolve sua  culpa pessoal. Pecado material consiste em um ato que é errado em si mesmo (porque contrário à lei de Deus e da natureza moral humana), mas que o pecador não sabe estar errado e que, portanto, não é pessoalmente culpado.

O pecado original é o procedimento moralmente viciado em que todo indivíduo se encontra no momento do nascimento, como um membro de uma raça pecadora. Está escrito no livro bíblico de Gênesis que ele é uma consequência do primeiro pecado da humanidade, ou seja, o cometido por Adão. Teólogos divergem quanto à interpretação da narrativa, mas concorda a maioria que o pecado original surgiu pelo motivo dos seres humanos não terem vindo ao mundo como indivíduos isolados, mas como membros de uma sociedade que herdou tanto o bem e o mau de sua história.

O Catolicismo Romano distingue dois tipos de pecado: o pecado mortal e  o pecado venial. O pecado mortal destrói a relação do indivíduo com Deus e merece a condenação eterna. O pecado venial que, apesar de grave, não corta o relacionamento do indivíduo com Deus. Os protestantes rejeitam esta distinção.


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