Delicadeza e versatilidade são algumas das inúmeras qualidades desse ingrediente naturalmente 'gourmet'.
Não tenho a intenção de responder quem veio primeiro, se o ovo ou a codorna. Nem quero entrar na discussão sobre seus benefícios ou malefícios. Deixo essa questão para os filósofos do ovo. Mesmo porque eles nunca entram num acordo. De tempos em tempos colocam o ingrediente na berlinda e tecem profecias a respeito do assunto. Prefiro comê-los, adoro prepará-los e me emociono sempre ao servi-los.
Mimo, delicadeza, presente da natureza. Seu tamanho pequenino não diminui em nada seu sabor e sua versatilidade e nem suas qualidades nutricionais. Comparado ao ovo de galinha, ele supera todos os índices. Muito mais proteína, gordura, cálcio ferro e vitaminas. Um verdadeiro gigante. Tanto que na medicina chinesa é usado há milhares de anos como um poderoso remédio natural para o tratamento de inúmeras doenças, incluindo rinite e asma. Dizem que cura até tuberculose. Por aqui, o ovo dessa pequeno ave, cuja carne também é de se tirar o chapéu, tem fama de afrodisíaco. Muito antes do sucesso das "pílulas azuizinhas", Luiz Gonzaga exaltou as qualidades do ovo de codorna no seu popular baião de 1972. "Eu quero ovo de codorna pra comer, o meu problema ele tem que resolver”, cantava o músico.
Ovos de codorna ganham selo de iguaria pelo mundo afora, incluindo Europa, América do Norte e Índia. Os escoceses adoram envolver o ovo com uma massa de linguiça para depois fritá-lo. No Japão, fazem até omelete com os ovos das codorninhas. Isso sim é maluquice, mas cada povo tem a sua, não é mesmo? Nas Filipinas, o "kwek-kwek” é uma comida de rua muito popular, que consiste em ovos de codorna mal-cozidos mergulhados em massa e fritos. No Vietnã, Coreia do Sul e na Indonésia, ambulantes oferecem saquinhos de ovos de codorna cozidos.
Podemos utilizar os ovos de codorna para preparar todas as receitas clássicas feitas com ovos de galinha e ganhar pontos na apresentação. Mollets, pochés, fritos, cozidos ou assados. Os pratos, além de saborosos ficam com o visual charmoso e sofisticado. Tente fazer a troca naquela receita americana de ovos beneditinos, feita tradicionalmente com ovo de galinha poché, creme de mostarda e bacon. O resultado é surpreendente. Do tamanho de uma mordida, fazem bonito em qualquer canapé. Ovos são companhias perfeitas para aspargos, salmão, trufas, cogumelos e caviar. Quando utilizamos os de codorna, os pratos parecem pinturas, poesias culinárias.
Na hora da compra, verifique sempre a data de fabricação e a validade. Quanto mais frescos melhor. O segredo para descascá-los é rolar um por um numa superfície lisa depois de cozidos e frios. Quebrando-se toda a casca corre-se menos riscos de machucá-los ou quebrá-los.
**********
RECEITA
Ovos de codorna marinados e grelhados
Ingredientes
1 colher de sopa de sementes de gergelim (preta e branca);
1 colher de chá de sal; 24 ovos de codorna cozidos e descascados;
1 xícara de molho de soja;
1 colher de sopa de azeite de oliva extra-virgem; coentro fresco a gosto
Modo de Fazer
Espalhe as sementes de gergelim dentro de uma panela antiaderente e torre-as em fogo médio por aproximadamente quatro minutos. Num pilão, amasse grosseiramente as sementes torradas com o sal. Reserve.
Coloque os ovos cozidos no molho de soja e deixe marinar por duas horas no mínimo. Escorra os ovos e grelhe-os, sobre azeite, numa chapa de ferro que contenha marcas. Deixe-os bem marcados e sirva - os com o sal de gergelim e coentros frescos.
Ovos de codorniz são minúsculos, salpicados ficam bonitos. Eles cozinham em um tempo muito curto, e fazem uma adição elegante a uma salada, sopa, ou na bandeja de aperitivo.
Texto de Patricia Crespo publicado no suplemento "Degusta" do jornal "Estado de Minas" de 12 de abril de 2015. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.