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QUEM DEFENDEU A EUGENIA?

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A eugenia foi uma doutrina fundada em 1883 pelo primo de Darwin, Francis Galton (1822-1911). Tinha como objetivo aperfeiçoar a raça (leia-se raça superior) encorajando a reprodução dos indivíduos mais dotados (leia-se os inventores, os dirigentes, etc.), e desencorajando a dos menos aptos. As ligações do darwinismo social com o racismo científico foram meticulosamente elaborados pelo antropólogo francês Georges Vacher de Lapouge (1854-1936), que publicou, notadamente, uma obra intitulada L' Aryen. Para ele, o sucesso social estava relacionado ao fato de se pertencer a uma raça, e as raças eram desiguais, algumas superiores, como os arianos, outras inferiores (judeus, negros, etc.).

Os evolucionistas, Francis Galton, Herbert Spencer, Paul Broca, Cesare Lombroso, e o próprio Darwin e Hitler defenderam uma eugenia maléfica.

Dos inúmeros assuntos abordados por Charles Darwin em suas obras, um que merece destaque diz respeito à hereditariedade. A questão acarretou um impacto tão forte na vida deste naturalista ao ponto de levá-lo a criar uma teoria própria baseada na herança dos caracteres adquiridos: a estranha Pangênese.

A Pangênese foi uma teoria científica obsoleta sobre a hereditariedade articulada em profundidade por Darwin 1868. A ideia básica da pangênese remonta a pensadores pré-científicos como Hipócrates. Representa um modelo misto entre a herança por mistura aceito na época com um elemento de herança de caracteres adquiridos. Segundo esta teoria, as partes do organismo produziriam partículas denominadas "gêmulas" (novas gônodas) que eram direcionadas para as células germinativas. Durante a reprodução sexuada, havia a mistura das partículas provenientes do macho e da fêmea produzindo um novo organismo com características de ambos os progenitores.

Segundo a pangênese, a modificação do organismo durante a vida provocava alterações nas gêmulas e, consequentemente, poderiam ser transmitidas para as gerações seguintes. Experimentos conduzidos à época por Galton, foram incapazes de evidenciar a existência das gêmulas, e a teoria da pangênese foi eventualmente abandonada.

No desconhecido livro de Darwin “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”, a hereditariedade norteia toda a obra. E um detalhe interessante refere-se ao fato de que, quando faz referência da herança relacionada a características mentais, é comum Darwin fazer menção de seu primo Francis Galton. Referindo-se, por exemplo, à hereditariedade dos gestos e cacoetes, ele faz menção, numa nota de rodapé, de um caso contado por Galton relacionado à hereditariedade de um sentimento de prazer transmitido de pai para filha. Diz:

A hereditariedade de gestos habituais é para nós tão, importante que aproveito a permissão do Sr. F. Galton para reproduzir com suas próprias palavras este notável caso: "O presente relato de um hábito encontrado em três indivíduos de gerações consecutivas tem especial interesse por ocorrer somente durante o sono, não podendo, portanto, ocorrer por imitação, mas sim naturalmente. Os dados são plenamente confiáveis, pois levantei-os em abundância e profundidade a partir de fontes independentes. A esposa de um cavalheiro com uma importante posição descobriu que ele tinha o curioso cacoete de, quando dormindo pro fundamente, levantar o braço direito lentamente sobre o rosto até a testa, e então num espasmo deixá-lo cair com força sobre o nariz. O cacoete não se repetia todas as noites, mas às vezes, e independentemente de qualquer causa determinada. Algumas vezes era repetido por uma hora ou mais. O nariz desse cavalheiro era proeminente e com frequência ficava machucado pelos golpes que recebia. Certa vez um ferimento mais grave foi produzido, que demorou para cicatrizar pela recorrência, noite após noite, dos golpes que o haviam provocado. Sua esposa teve de retirar o botão do punho de sua camisola, pois ele provocava fortes arranhões, e tentou-se uma maneira de amarrar seu braço.

"Muitos anos depois, seu filho casou-se com uma senhora que nada sabia desse incidente familiar. Ela, no entanto, observou a mesma peculiaridade em seu marido; mas seu nariz, por não ser particularmente proeminente, não sofria com os golpes. O cacoete não acontece quando está meio dormindo, como, por exemplo, quando cochila em sua poltrona, mas assim que ele dorme profundamente, os golpes podem começar. Acontece, como com seu pai, de aneira intermitente; às vezes cessando por muitas noites, outras repetindo-se durante uma parte de todas as noites. O gesto é feito, como acontecia com seu pai, com o braço direito.”

"Um de seus filhos, uma menina, herdou o mesmo cacoete. Ela o executa igualmente com o braço direito, mas de forma um pouco diferente; pois, depois de levantar o braço, não deixa o punho cair sobre seu nariz, mas a palma da mão meio fechada cai atingindo o nariz com razoável rapidez. Também é muito intermitente nessa criança, cessando por meses, mas por vezes repetindo-se sem parar."

Realmente impressiona toda esta obsessão de Darwin pela questão da hereditariedade. Lembrando que, na época, o assunto estava diretamente relacionado à questão de melhoria da "raça" humana.

Darwin chegava até a prever a completa extinção de raças inteiras, consideradas “inferiores”. Escreveu pouco antes da morte, numa carta de 1881:“Eu poderia esforçar-me e mostrar o que a seleção natural fez e ainda faz para o progresso da civilização, mais do que aquilo que pareceis admitir. Lembrai-vos do perigo que correram as nações europeias, alguns séculos atrás, de serem esmagadas pelos turcos e de quanto este ideia nos parece ridícula hoje em dia.

As raças mais civilizadas, que chamamos de caucásicas, bateram os turcos em campo raso na luta pela existência. Fazendo um relance sobre o mundo, sem olhar num porvir muito longínquo, quantas raças inferiores serão em breve eliminadas pelas raças que têm um grau de civilização superior!”

Na Origem do homem, deixava muita clara suas posições racistas: "A seleção permite ao homem agir de modo favorável, não somente na constituição física de seus filhos, mas em suas qualidades intelectuais e morais (sic). Os dois sexos deveriam ser impedidos de desposarem-se quando se encontrassem em estado de inferioridade muito acentuada de corpo ou espírito”. E mais adiante: “Todos aqueles que não podem evitar uma abjeta pobreza para seus filhos deveriam evitar se casar, porque a pobreza não é apenas um grande mal, mas ela tende a aumentar; (...) enquanto os inconscientes se casam e os prudentes evitam o casamento, os membros inferiores da sociedade tendem a suplantar (em número) os membros superiores. Como todos os animais, o homem chegou certamente ao seu alto grau de desenvolvimento atual mediante luta pela existência, consequência de sua multiplicação rápida; e, para chegar a um mais alto grau ainda, é preciso que continue a ser mantida uma luta rigorosa (...). Deveria haver concorrência aberta para todos os homens e dever-se-iam fazer desaparecer todas as leis e todos os costumes que impedem os mais capazes de conseguir seus objetivos e criar o maior número possível de crianças”.

O grande Charles Darwin não declara expressamente a que grupo pertencia. Mas pelo fato de ter tido dez filhos e de ser uma pessoa rica, deduz-se facilmente...

É comum dizer-se que Darwin não afirmou que o homem descendia do macaco. Darwin dizia coisa muito pior. Seu racismo não o abandonava. Afirmava que o homem descendia dos selvagens! E não parava aí. Dizia preferir descender de um forte e valente macaco, do que ter um desses selvagens como ancestral.

A aplicação de sua teoria ao homem, ou, mais propriamente, e extensão ao organismo humano dos valores burgueses de propriedade privada e acumulação, resultou no que se chamou eugenia. O melhoramento da raça através de recomendações da eugenia eram os ideais do nazismo. O Estado Nazista não era, portanto nada mais do que um Estado capitalista onde a melhoria do corpo dos cidadãos fazia parte da estratégia global de aumento da produtividade.

Hitler garantia procriação aos cidadãos alemães e possuíssem cabelos loiros, boa estrutura, queixo bem formado, nariz fino a arrebitado, olhos claros e profundos e pele rosado. Os homens selecionados poderiam ingressar na tropa de elite, a SS, e poderiam ter o número de filhos que desejassem, sem precisar casar. O Estado cuidaria de criar e educar tais crianças, segundo os ideais do nazismo. A trajetória do nazismo é bem conhecida. As Câmaras de gás e os seis milhões de assassinatos, também... O que pouco se fala é que os Estados Unidos também adotavam políticas eugenistas na mesma época...”

“Em A descendência do homem e a seleção sexual, que apareceu pela primeira vez em 1871, Darwin expressa opiniões similarmente notáveis que resumem sua postura filosófica quanto ao problema da seleção e da contra-seleção, aplicadas ao homem. O eugenismo aí está implícito. O eugenismo e a crítica a certos efeitos anti-seletivos da civilização moderna - argumentos que serão, futuramente, aproveitados de modo peculiar. Vejamos o que diz o biólogo:

“Com os selvagens, os indivíduos fracos de corpo e de espírito são prontamente eliminados e os sobreviventes não tardam, ordinariamente, a se fazer notar por sua saúde vigorosa. No que diz respeito a nós, homens civilizados, fazemos pelo contrário todos os esforços para deter a marcha da eliminação; construímos hospitais para os idiotas, os achacados e os doentes; fazemos leis que prestam assistência aos indigentes; nossos médicos esforçam-se com toda a sua ciência para prolongar ao máximo a vida de cada um... Os membros mais débeis podem assim reproduzir-se indefinidamente. Ora, quem quer que se tenha ocupado da reprodução dos animais domésticos sabe, sem dúvida, como essa perpetuação dos seres débeis deve ser prejudicial à raça humana. Nosso instinto de simpatia nos induz a socorrer os infelizes. A compaixão constitui um dos produtos acidentais que adquirimos, no princípio, do mesmo modo como os outros instintos sociais de que faz parte. A simpatia, aliás, tende sempre a tornar-se mais larga e mais universal. Não saberíamos restringir nossa simpatia, mesmo se admitirmos que a razão inflexível disso fizesse uma lei, sem prejudicar a parte mais nobre de nossa natureza...

Devemos portanto sofrer, sem nos queixar, os efeitos incontestavelmente perversos que resultam da persistência e da propagação dos seres débeis. Parece, contudo, que existe um freio a essa propagação, no sentido de que os membros malsãos da sociedade se casam menos facilmente do que os membros sãos. Esse freio poderia ter uma eficácia real se os fracos de corpo e de espírito se abstivessem do casamento. Mas é isso uma situação que é mais fácil desejar do que realizar”.

Em outros trechos, parece Darwin lamentar que o homem civilizado procure anular, graças à medicina, o processo de eliminação dos inferiores. A vacina descoberta por Pasteur e Jenner estava preservando milhares cuja constituição franzina teria sucumbido à varíola ou à peste. "Assim os membros fracos da sociedade civilizada se propagam" e "ninguém duvida que isso é prejudicial à raça do homem". Comparando essa prática com a iniciativa inteligente do próprio homem quando domestica os animais, Darwin estava, sem se dar conta, lançando as bases de uma concepção de eugenismo radical que encontraria sua suprema e mais terrível expressão no racismo nazista”.

Não seria Hitler darwinista? E Himmler, e Rosenberg, e Mengele e os SS também?

Aliás, o próprio Nietzsche, tão infenso ao nacional-socialismo estatizante alemão, também escreveria na coletânea do Wille zur Macht que, para gerar o super-homem, seria necessário "formar o homem futuro pela educação seletiva (Zuchtung) e, por outro lado, aniquilar milhões de malogrados".

Naquela obra, em seus aforismos 397 e 398, Nietzsche volta repetidamente ao tema eugenista. Sabemos que o eugenismo hitleriano adotou metodicamente o programa e que mesmo antes do Holocausto e do início da guerra em 1939, já estava esterilizando e, mais tarde, assassinando em massa os imbecis, os mentecaptos, os doentes incuráveis, os homossexuais e os incapacitados de várias espécies.

A eugenia justificou o genocídio: os cálculos variam entre 11 e 26 milhões de massacrados das raças ditas "inferiores" - judeus, russos, poloneses, ciganos, iugoslavos, etc.”

Texto de Jesse de Barros publicado em "Quora" em 2 de novembro de 2021. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.




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