A verdadeira história é temperada com feitiçaria, canibalismo e estupro. Confira três versões: italiana, francesa e brasileira
À moda italiana
Giambattista Basile apimentou a história no século XVII
1. FARPA MALDITA
Ao mexer num tear, uma farpa entra sob a unha de Tália, provocando sono imediato – maldição prevista desde sua infância. Desconsolado, o pai abandona a casa, largando a filha adormecida sozinha.
2. NOIVA CADÁVER
Numa caçada, o rei, que já era casado, se encanta por Tália e, antes de partir, estupra a moça apagada! Ela ainda engravida de gêmeos. Um dia, ao tentar mamar, um deles chupa o dedo da mãe e retira a farpa, despertando-a.
3. AMADA AMANTE
Um ano após o encontro, o rei volta à floresta, encontra Tália acordada e passa a esticar as caçadas para manter a vida dupla. A esposa desconfia e põe um espião na cola do rei.
À moda francesa
Nas mãos de Charles Perrault, o final é violento
1. QUE OGRA DE SOGRA
Agora a vilã é a mãe do rei. A sogra de Bela (que não tem nome nesta versão) é uma ogra, faminta por crianças! à toa, o rei não conta nada à megera sobre seus netinhos.
2. BANQUETE DE GENTE
Furiosa com o filho por assumir Bela como rainha, a ogra ordena ao cozinheiro que faça para ela um rango com a carne do neto e da neta. O criado, porém, serve carne de carneiro e de cabrito para enganá-la.
3. GUARDA NA DESPENSA
O cozinheiro esconde as crianças e abre o jogo com Bela – que a rainha também estava a fim de jantar. Ao ouvir o choro das crianças, a rainha descobre o engodo e resolve cozinhar todo mundo.
4. CALDEIRÃO ANIMAL
O caldeirão que vai ferver geral é recheado com sapos, víboras, enguias e cobras. No último instante, porém, o rei aparece e a ogra, amedrontada, se joga de cabeça, sendo devorada pelas feras.
À moda brasileira
A versão brasuca também sangra
O escritor brasileiro Sílvio Romero publicou, em 1885, em 'Contos Populares do Brasil', a história de um rei que, numa caçada pela floresta, se apaixona pela camponesa Madalena Sinhá. Em seguida, o rei constitui uma segunda familia no campo, mas é delatado por um servo da rainha. No final, a amante e a rainha saem na mão até que Madalena mata a rival, com ajuda do rei. E o servo dedo-duro acaba degolado.
Texto de Tiago Jokura publicado na revista "Mundo Estranho", edição de novembro 2015, Editora Abril, São Paulo. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.