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O POSITIVISMO NO BRASIL

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Altar da Igreja Positivista do Rio de Janeiro, com a imagem da deusa Humanidade inspirada em traços de Clotilde de Vaux
O positivismo de Auguste Comte exerceu larga influência nos mais variados círculos. Enquanto doutrina sobre o conhecimento e sobre a natureza do pensamento científico, incorporou-se a outras correntes análogas, que procuraram valorizar as ciências naturais e suas aplicações práticas. Junto a essas outras correntes, o positivismo constitui um dos traços característicos do pensamento que se desenvolveu na Europa, durante o século XIX.

Entre os mais fiéis seguidores de Comte destaca-se o lexicógrafo Émile Littré, que, no entanto, renegou a religião da humanidade. O mesmo não aconteceu com Pierre Laffite (1823-1903), que aderiu principalmente à última fase do pensamento do mestre. Na Inglaterra, o positivismo de Comte, excluída a religião da humanidade, teve grande difusão, contando-se entre seus propagadores o filósofo John Stuart Mill, além de outras figuras menos conhecidas, como G. H. Lewes (1817-1878), Harriet Martineau (1802-1876) e Richard Congreve (1818-1899), fundador da Sociedade Positivista de Londres.

Solo mais fértil foi encontrado pelo positivismo comteano, incluindo-se a religião positivista, em países de menor tradição cultural e carentes de ideologia para seus anseios de desenvolvimento. Esse fenômeno ocorreu na América do Sul, sobretudo no Brasil.

As primeiras manifestações do positivismo no Brasil datam de 1850, quando Manuel Joaquim Pereira de Sá apresentou tese de doutoramento em ciências físicas e naturais, na Escola Militar do Rio de Janeiro. A esse trabalho viriam juntar-se a tese de Joaquim Pedro Manso Sayão sobre corpos Flutuantes e a de Manuel Pinto Peixoto sobre os princípios do cálculo diferencial.

Em todos encontram-se inspirações da filosofia comteana.

Passo mais importante, contudo, foi dado por Luís Pereira Barreto (1840-1923), com a obra As Três Filosofias, na qual a filosofia positivista era apontada como capaz de substituir vantajosamente a tutela intelectual exercida no país pela Igreja Católica. Pereira Barreto não foi um positivista ortodoxo, como Miguel Lemos (1854-1917) e Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927), que se iniciaram no positivismo através da matemática e das ciências exatas, quando estudantes na Escola Politécnica. Os dois entreviram na ciência fundada por Auguste Comte as bases de uma política racional e pressentiram, na sua coordenação filosófica, o congraçamento definitivo da ordem e do progresso, como dirá mais tarde o próprio Miguel Lemos.

“Originadas da mesma civilização ocidental, mas sem os obstáculos retrógrados que no velho mundo protelam a vitória da nova fé...essas nações apresentam, tanto no temporal como no espiritual, as melhores disposições para aceitarem a doutrina regeneradora.” Assim Comte se referia à América ao Sul, onde sua doutrina mais se expandiu. Em 1876, fundou-se a primeira sociedade positivista do Brasil, tendo à frente Teixeira Mendes, Miguel Lemos e Benjamin Constant (1836-1891). No ano seguinte, os dois primeiros viajaram para Paris, onde conheceram Émile Littré e Pierre Laffite.

Miguel Lemos decepcionou-se com “o vazio do littreísmo” e tornou-se adepto fervoroso da religião da humanidade, dirigida por Laffite. De volta ao Brasil, fundou a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, que constitui a origem do Apostolado Positivista do Brasil e da Igreja Positivista do Brasil, cuja finalidade era “formar crentes e modificar a opinião por meio de intervenções oportunas nos negócios públicos”.

Nos últimos anos de sua vida, Comte reapresentou seus projetos de renovação social sob a forma de religião da humanidade. Papel importante nessa evolução de seu pensamento foi desempenhado por seus sentimentos em relação a Clotilde de Vaux.

Entre essas intervenções, sem dúvida, foi importante a participação dos positivistas no movimento republicano, embora seja um exagero dizer-se que foram eles que proclamaram a República, em 1889. Influíram, é verdade, na Constituição de 1891 e a bandeira brasileira passou a ostentar o lema comteano “ordem e progresso”. No século XX, o entusiasmo pelo positivismo religioso decresceu consideravelmente, mas continuou a existir a Igreja Positivista do Brasil, no Rio de Janeiro, que permanece atuante até os dias de hoje.

Texto de José Arthur Giannotti em "Os Pensadores - Auguste Comte" Editora Abril, São Paulo, 1978, Introdução. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.






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