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A PRIMEIRA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA DO BRASIL

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Imagens das instalações da Companhia Frigorífica e Pastoril em  Barretos (Album dos 50 anos da Cia. Paulista)

Alguns devem estar se perguntando qual a relação entre o titulo desta postagem com as ferrovias paulistas. A este respeito pode-se dizer que a relação vai muito além do simples fato de que a estrada de ferro teve participação efetiva como meio de transporte da matéria-prima e do escoamento do produto acabado.

Foi através do empenho de uma das grandes ferrovias de São Paulo, a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, cuja história traz as mais diversas faces do pioneirismo, quer seja no setor ferroviário como em outros que o cercam, que foi instalada a primeira indústria frigorífica do Brasil, no município de Barretos SP.

Conforme consta em seu relatório anual referente a 1906, foi naquele ano que a Cia. Paulista assinalou pela primeira vez sua intensão de prolongar a linha de Bebedouro à Barretos, objetivando não somente aproximar seu ponto extremo das regiões produtoras do Triangulo Mineiro, Goiás e Mato Grosso, que já figuravam como grandes centros de criação de gado, mas também explorar as vantagens que a região daquela cidade paulista oferecia. A este respeito a Companhia faz a seguinte menção:

"...já porque a zona paulista intermediária, que constitue o município de Barretos e parte do de S. José do Rio Preto, (...)se reveste de todas as qualidades para um vasto centro de exploração da industria pecuária, em seus variados ramos e respectivos derivados,..." (CPEF, 1906, pag. 12).

A 25 de maio de 1909, a Cia. Paulista da o primeiro passo contundente para realização de seu projeto com a inauguração do prolongamento de Bebedouro a Barretos.

“De outro lado, sendo o municipio de Barretos formado, em sua maior parte, por extensa região revestida de todas as qualidades especiaes para um vasto centro de exploração da industria pecuária em seus variados ramos, é fora de duvida que a chegada da estrada de ferro aos magnificos campos do remoto município vem abrir caminho á incorporação duma nova e importante força econômica ao activo industrial do Estado de S. Paulo.

Todos os elementos naturaes, com effeito, conjuram, e da melhor fôrma, para transformar aquella interessante localidade, até ha pouco perdida em meio de vasta região sertaneja, no mais importante mercado nacional de gado.” (CPEF, 1908, pag. 21)

Não obstante, a Cia. Paulista buscou apoio do Governo do Estado, solicitando a este a criação de uma feira de gado e de um posto zootécnico em Barretos, colocando a disposição a quantia de dez contos de réis para tais finalidades.

Estas ações, somadas a outras voltadas para a melhoria da infraestrutura do transporte que convergisse para a região, viriam reforçar a expectativa de tornar Barretos um importante entreposto comercial da zona do Triângulo Mineiro que se estendia a oeste de Uberaba, do sul de Goiás e de grande parte do Mato Grosso.

Executados os primeiros passos, a Cia. Paulista deu inicio aos tramites para obtenção da concessão para instalação de um matadouro de gado pelo sistema frigorífico em Barretos, adquirida junto a Câmara Municipal daquela cidade por escritura publica lavrada no 2° tabelião da capital paulista em 28 de outubro de 1909. Ao mesmo tempo sua diretoria tratou de comprar terrenos apropriados para a sua instalação, uma charqueada para o preparo da carne seca e os imóveis necessários para o estabelecimento de uma seção pastoril para engorda e criação de gado.

Em seguida sua diretoria promoveu a incorporação da Companhia Frigorífica e Pastoril, fundada em São Paulo a 11 de abril de 1910 com o capital de 3.000 contos de Réis, sendo 10% subscritos pela própria Paulista que, a 30 de janeiro de 1911, transferiu por escritura pública o privilégio obtido da Câmara Municipal de Barretos para a nova empresa.

Com corpo diretivo próprio, mas subordinado à Cia. Paulista, a Companhia Frigorífica e Pastoril assume dali em diante a construção de suas instalações, bem como a atenção necessária às demais ramificações de seu negócio.

“Com referencia a um dos importantes ramos da industria que pretende explorar, o da engorda do gado, escreve a directoria da Companhia Frigorífica e Pastoril:

« O município de Barretos, limitrophe e próximo dos grandes centros pastoris dos Estados de Minas, Goyaz e Matto Grosso, (...), está destinado, em futuro não remoto, a ser o mais importante centro pastoril da parte central do Brasil, desde que as suas terras, onde já existem excelentes pastagens, com capacidade para invernar mais de cincoenta mil cabeças de gado, sejam inteiramente occupadas por invernadas e estas sejam racionalmente tratadas. (...) Para este fim, já possuímos no município de Barretos mais de cinco mil alqueires de terras. »” (CPEF, 1910, pag. 11)

Concluída as obras dos edifícios e instalado o equipamento necessário para sua operação, o frigorifico principiou suas atividades em abril de 1913, inicialmente de forma reduzida, até que fossem concluídas as obras do entreposto erguido na capital paulista à margem da linha da São Paulo Railway, pouco antes da estação da Mooca (lado esquerdo da linha) no sentido litoral. Até sua inauguração a produção era desembarcada dos vagões diretamente às mãos dos comerciantes locais. A rápida disponibilização da produção revela a emergente necessidade em se obter o retorno do investimento, suprindo a grande demanda existente na cidade de São Paulo, que na época, com 400 mil habitantes, consumia anualmente cerca de 100 mil bovinos e 50 mil suínos.

De fato era o objetivo primário da Cia. Paulista que a nova indústria fornecesse amplamente seus produtos para os grandes centros urbanos da época (São Paulo e Rio de Janeiro) e que fossem suficientemente supridos, vislumbrando mais adiante a exportação de congelados. Para sua diretoria esta perspectiva parecia bastante plausível uma vez que já naquela época, países até então tidos por grandes exportadores do artigo, como os Estados Unidos, já não o produziam satisfatoriamente para o próprio consumo.

Não encontrei dados que confirmassem qualquer negociação da Companhia Frigorífica e Pastoril com o mercado norte-americano, mas rapidamente sua produção alcançou o mercado europeu com expressivo volume de exportação, certamente favorecida pela 1° guerra mundial. O primeiro lote a ser exportado foi embarcado em 1914 para a Inglaterra.

Em pouco tempo a iniciativa da Cia. Paulista serviu de incentivo á outras companhias do ramo frigorífico a instalar no Brasil novas unidades fabris, como a unidade da Wilson inaugurada em Osasco SP em 1917, outra da Companhia Armour do Brasil inaugurada na capital paulista em 1918, ambas empresas de origem norte-americana e o Frigorífico Anglo instalado em Mendes RJ em 1917 pelo grupo inglês Vestey.

Buscando não me estender demais no assunto, finalizo esta postagem comentando que a Companhia Frigorífica e Pastoril permaneceu por pouco tempo sob a tutela da Cia. Paulista. Em 1919 foi arrendada a Brazilian Meat Company, pertencente ao Grupo Vestey, que a adquiriu em definitivo após negociação firmada por escritura pública emitida a 7 de dezembro de 1923. No ano seguinte a Cia. Frigorífica Pastoril passou a denominar-se Frigorifico Anglo.

Texto de Rafael Prudente Corrêa publicado em http://efpaulista.blogspot.com/2014/01/a-primeira-industria-frigorifica-do.html. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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