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A HISTÓRIA DA SANTA CASA DE BARRETOS

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Leopoldo Costa


PREÂMBULO

A instituição das santas casas de misericórdia é bem lusitana, não existe em outros países do mundo. Surgiu em Lisboa com uma alteração nos objetivos da "Confraria de Caridade de Nossa Senhora da Piedade", originalmente encarregada em visitar os presos e acompanhar os condenados à morte até o local de sua execução e depois os enterrá-los. É por isso que é de "misericórdia".

Em 1498, foi fundada a primeira, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, pela rainha D. Leonor. O hospital cresceu com ajuda de doações e pelo prestígio que a Santa Casa ganhava com o desenvolvimento econômico da colônia. Da época de sua fundação até a metade do século XVIII, a Santa Casa foi dirigida por pessoas situadas nos altos escalões do governo.

No Brasil, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia surgiu em Santos ainda no período colonial. A Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos foi o primeiro hospital das Américas, fundado em 1543 por Brás Cubas, numa região que se tornaria mais tarde a cidade de Santos, no estado de São Paulo.  Auxiliado pelos moradores da região, iniciou em 1542 a construção de um hospital, que inaugurou em 1543, provavelmente no primeiro dia de novembro, data comumente reservada para as grandes comemorações. Chamou-o de Hospital de Todos os Santos, inspirando-se no nome do grande hospital de Lisboa e na data da sua fundação.

Farmácia Modelo

EM BARRETOS

PRIMEIROS TEMPOS

Durante os primeiros tempos a vila, em se tratando de saúde, era atendida por benzedeiras e curandeiros. O mais conhecido curandeiro era Antonio Marcolino que praticou o ofício até a sua morte em 1905.

Depois, foi a vez dos "práticos": exerciam a medicina sem serem habilitados. O mais famoso deles era o Ferreirinha (José de Menezes Ferreira), mineiro de Frutal que chegou à Barretos em 1876. Foi professor e comerciante e o primeiro a medicar. Cobrava consultas, preparava e vendia remédios homeopáticos. Morreu em 1889.

Outro foi Chico Boticário (Francisco Antonio das Chagas), um protegido do poderoso cel. Almeida Pinto, era dono de uma botica e também exercia as funções de médico e parteiro. Também faleceu em 1889.

Em 1918 existiam em Barretos seis importantes farmácias: a Modelo (de Francisco Romano), a Central (de Silvestre de Lima), a Brasil (de Osório Silvestre de Barros fundada em 1903),a São Paulo (de Joel Lisboa fundada em 1915), Bahia (de João Batista Neves fundada em 1916) e a Telasco (de Ismael Telasco de Miranda). Além destas, havia inúmeras pequenas farmácias espalhadas pelas ruas mais distantes do centro e nos distritos. Quase todos os proprietários exerciam a medicina e receitavam remédios.

Desde que a povoação cresceu, as autoridades civis e a igreja preocuparam-se em oferecer o minimo de assistência aos doentes. As distâncias eram longas para obter assistência em outras localidades. E era difícil a locomoção. As cidades que ofereciam melhores condições e mais próximas de Barretos eram Araraquara distante mais de 160 km e Franca distante 140 km.

Desde 1906 os espíritas estabeleram na cidade a "Sociedade Espírita 25 de Dezembro" e desenvolviam ações na área de atendimento aos mais necessitados em saúde e assistência social. Ofereciam a população além da "Casa de Caridade" (fundada em 1911), sanatório, albergue noturno, asilo para a velhice, assistência aos necessitados, lar da criança e cozinha dos pobres. A sua atuação efetiva constrangia e enciumava a elite e as entidades religiosas católicas que pouco ofereciam.

A SANTA CASA


Lançamento pedra fudamental

Aí, pensaram na construção de uma Santa Casa. Houve muitas discussões a respeito. A concretização de fato, surgiu em 17 de janeiro de 1917, quando foi realizada uma reunião na residência do padre José Martins,vigário da paróquia, onde  estiveram presentes os médicos Henrique Pamplona de Menezes, José C. P. Caldas, Bráulio de Vasconcelos e Marcos C. Martins, além de Evaristo Pinto da Cruz, José Garcia Vassimon, Francisco Conde e João Machado de Barros. A ata da reunião foi lavrada por João Machado de Barros. Nesta reunião foi escolhida uma comissão arrecadadora de fundos para a efetivação do projeto.

No dia 13 de agosto de 1917 houve outra reunião onde estiveram presentes 12 personalidades do município. A reunião foi presidida pelo padre José Martins e secretariada mais uma vez por João Machado de Barros. O principal tema discutido foi a escolha do local para a construção do hospital. Venceu a ideia da sua localização em três quadras delimitadas pelas ruas 28 e 30 e avenidas 21, 23 e 25. Na quadra entre as ruas 28 e 30 e avenidas 23 e 25 seria construido o hospital, numa outra adjacente uma praça e a última ainda sem uma decisão para seu uso.

Na época, a região escolhida era considerada insalubre pois tinha brejos, pequenos córregos e resquícios da mata nativa. Havia apenas algumas choupanas de famílias pobres que alí as construíram por estar próximo a uma estrada boiadeira.

A quadra destinada à construção seria uma doação da diocese, a quadra da praça deveria ser adquirida pela municipalidade. O bispo da diocese de São Carlos (Barretos pertencia a esta diocese) D. José Marcondes Homem de Melo autorizou o padre José Martins a fazer a escritura de doação. A exigência preconceituosa foi que fosse fechada a "Casa de Caridade" mantida pelos espíritas desde 1911.

Foi eleita a primeira diretoria: o  presidente foi cel. José Garcia Vassimon, o vice-presidente padre José Martins, o secretário João Machado de Barros e o tesoureiro Francisco Conde.

Foram angariados os fundos e no dia 4 de abril de 1918 assinado o contrato de construção do hospital com os empreiteiros Dácio de Morais e Fioravanti Pagani. O valor foi de 120 contos de réis apenas para as obras de alvenaria. O acabamento seria contratado posteriormente. O projeto foi elaborado pelo arquiteto paulistano Artur Ramos de Azevedo (mas, modificado pelos construtores). Ramos de Azevedo  e seu escritório tinham obras famosas no seu currículo como o Teatro Municipal de São Paulo, o Mercado Municipal, a Pinacoteca e o Palácio das Indústrias.

A solenidade de lançamento da pedra fundamental foi no dia 30 de junho de 1918 com a presença de diversas autoridades e de duas bandas de música. Um fato deprimente foi a presença de enfermos acamados na missa que foi realizada depois do ato.
Missa campal com presença de enfermos acamados
Houve alguns desentendimentos entre as comissões de arrecadação e a diretoria o que obrigou a convocação de uma assembleia geral dos subscritores para o dia 9 de janeiro de 1921. Compareceram 50 subscritores. Elegeram-se então a primeira mesa administrativa: provedor Pedro Paulo de Souza Nogueira, vice provedor Rafael da Silva Brandão, secretário João Machado de Barros e tesoureiro Francisco Conde. No dia 10 de janeiro de 1921 esta comissão tomou posse no Paço Municipal em solenidade presidida pelo prefeito Antonio Olimpio Rodrigues Vieira.

No dia 3 de abril de 1921 a construção foi inaugurada com a benção do padre da paróquia Manuel da Costa Gomes. Existiam duas espaçosas salas de enfermaria e quartos particulares. Assumiu a diretoria do corpo clínico Henrique Pamplona de Menezes.

Primeiro corpo médico
No dia 2 de abril de 1922 foi inaugurado novo pavilhão com sala de operações,consultórios e farmácia.

No início da década de 1930 foi autorizado a imigração da Áustria de freiras da Ordem de São Francisco de Assis para auxiliar na organização e administração do hospital. Elas fizeram um bom trabalho na gestão do hospital.

Em 17 de maio de 1935 foi lançada a pedra fundamental do pavilhão que foi construído com donativos do resgate das joias doadas pelos barretenses durante a Campanha do Ouro Paulista da revolução constitucionalista de  1932 e complementado por doação particular de Titinha Franco (apelido de Ana de Lima Franco). O pavilhão recebeu o seu nome.

A pedra fundamental para o pavilhão de quatro andares da maternidade foi lançado em 1º de abril de 1951, quando era provedor Teófilo Benabém do Vale, que foi inaugurada em 1955.

No final da década de 1950 iniciou-se nova campanha de arrecadação de fundos e foi construído o pavilhão Hussein Gemha que foi inaugurado em 1967.

Na década de 1970 o hospital passou por uma série de modificações, sendo demolidas edificações antigas e construída novas instalações. Foi eliminada a enfermaria coletiva e substituída por quartos mais confortáveis com dois ou quatro leitos.

Em 1983, quando era provedor Ibraim Martins da Silva, foi iniciada a construção de novo e moderno pavilhão, que foi inaugurado em 1988.

Posteriormente alguns problemas financeiros e administrativos ocorreram, mas foram resolvidos. O hospital continua atendendo a contento a população da região. Atualmente a denominação "de Misericórdia" foi eliminada na maioria dos hospitais.


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